Clínica Succi

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Artigo

Medicamento obrigatório pode não ser eficaz para tratamento do coração

*Guilherme de Menezes Succi

Foi publicado no dia 3 de outubro de 2012 um estudo internacional na revista científica JAMA - The Journal of the American Medical Association, da Associação Médica Americana, muito respeitada no meio médico.


Foram analisados dados de um registro internacional (REACH) que engloba pacientes de todos os continentes, inclusive brasileiros. Participam do registro um total de 44.708 pacientes não internados (em regime ambulatorial), considerados sob risco de apresentarem doenças vasculares, sobretudo cerebrais e cardíacas - derrames e infartos.


Os pacientes foram divididos em três classes de pacientes: com história prévia de infarto; obstruções de artérias coronárias sem infarto e com fatores de risco para doença coronária, porém sem obstruções. Todos foram divididos em dois grupos principais, os que tomavam betabloqueadores e os que não utilizavam o medicamento.


O betabloqueador é um tipo de remédio obrigatório para pacientes com histórico de infarto e fortemente recomendados para aqueles com obstruções coronarianas e múltiplos fatores de risco, baseado em estudos internacionais realizados anteriormente. Seu uso é disseminado mundialmente, porém parte dos pacientes não aderem ao tratamento devido à falta de persistência ou intolerância à substância contida no remédio.


A ideia do estudo publicado era exatamente analisar se há diferença na evolução daqueles que não tomaram o remédio se comparados aos que seguem a risca as recomendações de seus médicos. O principal foco da avaliação (denominado Desfecho Primário) é a incidência durante o seguimento médio de 44 meses, de morte por motivos cardiovasculares, infarto não fatal e AVC (derrame) não fatal.


Os resultados mostraram não haver benefício do uso de betabloqueadores em nenhuma das classes de pacientes, mesmo naqueles com história prévia de infarto. Os pesquisadores sugerem a necessidade de mais pesquisas para esclarecer melhor esta questão.


Os pacientes que fazem uso de betabloqueadores e seus médicos não devem fazer nenhuma grande mudança na sua conduta por enquanto. Este resultado apenas serve de alerta para que novas pesquisas sobre o tema sejam feitas. Talvez a comunidade médica perceba futuramente que o uso de betabloqueadores deva sofrer ajuste na dose e no tempo de duração do tratamento para estes pacientes.



*Guilherme de Menezes Succi, doutor em cirurgia cardiovascular pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP, é membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e membro habilitado do Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial (DECA) da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. Apresentou a técnica de plastia de válvula mitral no congresso especializado somente de doenças valvares, o Florida Valve 2012, nos Estados Unidos.